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Sumário

Panorama Político 2024 - Apostas esportivas, golpes digitais e endividamento

O Instituto de Pesquisa DataSenado realizou a 21ª edição de sua pesquisa nacional, que tem série histórica aplicada desde 2008, tendo entrevistado mais de 55 mil cidadãos ao longo dos anos. A pesquisa avalia a opinião dos brasileiros para indicar prioridades para a atuação parlamentar e quantificar percepções em relação à democracia brasileira; ao desempenho do parlamento; e aos principais temas em debate no país, inclusive aqueles que se inserem no contexto das eleições, como o impacto de notícias falsas sobre a política e a sociedade, cujas informações foram publicadas em agosto de 20241.

No presente relatório serão abordados os temas relativos ao segundo bloco da pesquisa que contemplam as apostas esportivas, os golpes digitais e o endividamento das pessoas. A relevância desses temas se destaca no atual cenário, em que o aumento da popularidade das apostas esportivas tem levantado preocupações sobre seus impactos sociais e econômicos bem como os golpes digitais estão se tornando cada vez mais sofisticados e frequentes.

Para compreender de forma mais ampla os desafios financeiros das famílias brasileiras, o tema do endividamento pessoal foi abordado de forma a possibilitar uma visão mais detalhada do assunto e contribuir na identificação de possíveis soluções que possam auxiliar no fortalecimento da educação financeira da população.

Esta edição do Panorama Político, comemorativa dos 20 anos do Instituto DataSenado, permite realizar estimativas também por unidade da Federação, reforçando a representação parlamentar federativa do Senado Federal. A pesquisa foi realizada entre 5 e 28 de junho, quando foram entrevistados, por telefone, 21.808 cidadãos, em amostra representativa da opinião da população brasileira, ou seja, de quase 170 milhões de pessoas (169.840.184) com 16 anos ou mais.

Método

As amostras do DataSenado são totalmente probabilísticas. Nas entrevistas, são feitas perguntas que permitem estimar a margem de erro para cada um dos resultados divulgados, calculados com nível de confiança de 95%. Dessa forma, não existe uma única margem de erro para toda a pesquisa, aproximação usual em pesquisas que não são totalmente probabilísticas. No entanto, para os dados nacionais, a margem de erro média observada para as respostas, sem considerar os cruzamentos, foi de 1,22 pontos percentuais, com desvio-padrão de 1,37 pontos percentuais. As entrevistas foram distribuídas por todas as unidades da Federação, por meio de ligações para telefones fixos e móveis.

Para uma descrição detalhada da metodologia utilizada, vide Método da Pesquisa.

Sumário executivo

A 21ª edição da Pesquisa Panorama Político mostra que 29% dos brasileiros apontam a saúde como sua maior preocupação no momento. Em relação à situação econômica, 36% dos cidadãos acreditam que piorou nos últimos seis meses.

Outro tema abordado pela pesquisa foram as chamadas “bets”, revelando que 84% dos brasileiros declaram não ter feito apostas esportivas nos 30 dias que antecederam a pesquisa. Entre os que apostaram, a maioria gastou até R$ 500. A distribuição da população que apostou é uniforme, exceto em Roraima (17%), Pará (17%), que possuem patamares superiores ao nacional (12%) e o Ceará (8%), que possui o menor índice. O perfil dessas pessoas é predominantemente masculino (62%).

Sobre golpes digitais, 24% dos brasileiros relataram ter perdido dinheiro em crimes cibernéticos no último ano. Não há um perfil definido para as vítimas, destaca-se, contudo, que no Ceará (17%) e no Piauí (18%) encontram-se os menores índices de declaração de perda de dinheiro por esse tipo de crime.

Além disso, 32% dos brasileiros têm dívidas em atraso há mais de 90 dias, com maior incidência entre aqueles que moram com cinco ou mais pessoas e que possuem renda familiar de até dois salários-mínimos. Destaca-se que as mulheres representam a maioria dos endividados (54%).

Nos Anexos 1, 2 e 3 (tabelas simples e cruzadas) do relatório completo é possível ter acesso a todos os resultados da pesquisa. É importante, contudo, sempre observar as margens de erro para verificar se os resultados são maiores, menores ou estatisticamente equivalentes aos nacionais.

1. As grandes preocupações dos brasileiros e percepção sobre situação econômica

O levantamento do DataSenado mostra que 29% dos brasileiros apontam a saúde como sua principal preocupação hoje, seguida pelo custo de vida e pela corrupção.

Gráfico 1

Quase dois terços (63%) dos cidadãos brasileiros acreditam que sua condição econômica permaneceu igual ou melhorou nos últimos seis (6) meses, enquanto o terço restante (36%) afirma ter piorado.

Gráfico 2

No comparativo nacional, nota-se que a percepção sobre melhora da própria situação econômica é maior no Maranhão (29%) e menor nos estados de Minas Gerais (14%), Rio de Janeiro (14%) e Rio Grande do Sul (14%).

Gráfico 3

A percepção de piora, por sua vez, é maior no estado do Rio Grande do Sul (43%) e menor nos estados de Pernambuco (29%), Amapá (27%), Maranhão (27%) e Piauí (24%). Apesar de o estado do Rio de Janeiro ter a mesma estimativa de 43% que o Rio Grande do Sul, quando considerada a sua respectiva margem de erro (6,3% para cima ou para baixo), não há diferença entre a percepção fluminense em relação ao país como um todo.

Gráfico 4

Quando os brasileiros foram perguntados se a condição econômica deles iria “Melhorar”, “Permanecer igual” ou “Piorar” nos próximos seis (6) meses, 40% acreditam que irá melhorar, 32% que irá permanecer igual e 21% que irá piorar. No comparativo nacional percebe-se que os gaúchos estão mais pessimistas em relação ao próprio futuro, já que apenas 31% deles acreditam na melhora da própria situação econômica.

Gráfico 5

Gráfico 6

2. Endividamento das pessoas

De acordo com o levantamento, 32% dos brasileiros afirmam possuir dívidas em atraso há mais de 90 dias. No comparativo nacional nota-se uma distribuição uniforme entre as unidades da Federação, com exceção do estado de Santa Catarina, que registra patamar inferior ao nacional (22%) e do Amazonas, que registra índice superior (42%).

Gráfico 7

Gráfico 8

Ao analisar o perfil das pessoas que declaram possuir dívidas há mais de 90 dias, nota-se que é maior o número de endividados entre as pessoas que são as únicas responsáveis pelo domicílio do que entre as pessoas que afirmam compartilhar a responsabilidade pelo lar. Entre as pessoas que são as únicas responsáveis pelo domicílio, 38% estão endividadas, enquanto 62% não possuem dívidas. No grupo que compartilha a responsabilidade pelo lar, esses percentuais são de 33% e 67%, respectivamente.

Gráfico 9

Observação: Dos brasileiros que declaram ser os únicos responsáveis pela família e que possuem dívidas em atraso há mais de 30 dias, cerca de 51% são do sexo masculino e 49%, do sexo feminino. Vide Tabela 1 do Anexo 3 no relatório completo.

Em relação ao número de pessoas que moram no domicílio, percebe-se que das pessoas que afirmam morar com cinco pessoas ou mais, 40% afirmam estar endividadas há mais de 90 dias e 60% não. Tal grupo possui proporção de endividados maior que os grupos com menos moradores no domicílio.

Gráfico 10

Dentre as pessoas endividadas há mais de 90 dias, 69% têm renda familiar de até dois salários-mínimos, 25% entre dois e seis salários-mínimos e 6% mais de seis salários-mínimos.

Gráfico 11

Em relação ao gênero, a pesquisa mostra que 46% das pessoas com dívidas em atraso há mais de 90 dias são do sexo masculino e 54% do feminino.

Gráfico 12

Para entender melhor a realidade dos brasileiros, o DataSenado comparou a parcela da população que tem o emprego como principal preocupação com aqueles que acumulam dívidas em atraso por mais de 90 dias. O estudo mostrou que 40% dos que citam o emprego como a maior inquietação atualmente estão inadimplentes há mais de três meses.

Gráfico 13

3. Apostas esportivas

Pesquisa nacional realizada em 2024 pelo Instituto de Pesquisa DataSenado mostra que 84% dos brasileiros com 16 anos ou mais, o que equivale a aproximadamente 143 milhões de pessoas, declararam que não fazem apostas esportivas.

Dentre aqueles que apostaram, 4% (6.277.598 pessoas) declaram ter apostado até 50 reais nos últimos 30 dias; 2% (2.940.235 pessoas) entre R$50 e R$99,99; e outros 4% (6.601.388 pessoas) entre R$ 100 e R$ 499,99. Por fim, outros 3% (4.525.366 pessoas) declararam ter apostado mais de R$ 500 nos 30 dias anteriores à entrevista.

Gráfico 14

Esta é a primeira vez que a Pesquisa Panorama Político permite uma análise detalhada dos resultados por unidade da Federação, algo que não era possível nas edições anteriores. Comparando os dados nacionais, nota-se que a porcentagem de pessoas que apostaram nos últimos 30 dias é similar em quase todas as regiões, exceto em três estados. No patamar superior encontram-se Roraima e Pará, com 17%, e no patamar inferior está o Ceará, com 8%.

Gráfico 15

O perfil das pessoas que apostaram é composto majoritariamente por pessoas do sexo masculino (62%), de até 39 anos (56%). Em relação à escolaridade, observa-se que 40% dos apostadores possuem o ensino médio completo.

Gráfico 16

Gráfico 17

Gráfico 18

Ao analisar o perfil das pessoas que apostaram do ponto de vista econômico, percebe-se que a maioria declara exercer atividade remunerada (68%), receber até dois salários-mínimos (52%) e não possuir dívidas em atraso há mais de 90 dias (58%).

Gráfico 19

Gráfico 20

Gráfico 21

4. Golpes digitais

A pesquisa também avaliou a incidência de golpes digitais e aponta que 24% dos brasileiros afirmam ter perdido dinheiro nos últimos 12 meses em função de algum crime cibernético, tal como clonagem de cartão, fraude na internet ou invasão de contas bancárias.

Gráfico 22

Em relação ao comparativo nacional, percebe-se que nos estados do Ceará (17%) e Piauí (18%) encontram-se os menores índices de declaração de golpe digital nos últimos 12 meses. Nas demais unidades federativas, a distribuição é uniforme, quando consideradas as margens de erro.

Gráfico 23

Embora os estados do Ceará e Piauí apresentem índices ligeiramente menores de golpes digitais, o levantamento não aponta um perfil claro para as vítimas desse tipo de crime. As pessoas que relatam ter perdido dinheiro com esse tipo de crime nos últimos 12 meses estão distribuídas em proporção semelhante às características socioeconômicas da população brasileira.

Gráfico 24

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 31% dos brasileiros moram em cidades de até 50 mil habitantes, 40% em cidades de mais de 50 mil até 500 mil habitantes e 29% em cidades com mais de 500 mil habitantes. Vide Tabela 29 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 25

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 88% dos brasileiros moram em áreas urbanas e 12% em áreas rurais. Vide Tabela 30 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 26

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 45% dos brasileiros declaram ser de religião católica; 31% evangélica, 23% outras religiões ou sem crença. Vide Tabela 28 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 27

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 59% dos brasileiros declaram estar ocupados, 5% desocupados e 36% fora da força de trabalho. Vide Tabela 27 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 28

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 49% dos brasileiros declaram ter renda familiar de até 2 salários-mínimos, 28% entre 2 e 6 salários-mínimos e 11% mais de 6 salários-mínimos. Vide Tabela 26 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 29

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 28% dos brasileiros declaram escolaridade de até ensino fundamental incompleto, 16% o ensino fundamental completo, 33% o ensino médio completo e 23% ensino superior incompleto ou mais. Vide Tabela 25 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 30

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 57% da população brasileira é composta por pessoas pretas, pardas ou indígenas e 43% por pessoas brancas ou amarelas. Vide Tabela 24 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 31

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 27% da população brasileira é composta por pessoas de 16 a 29 anos; 20% de pessoas de 30 a 39 anos; 18% de pessoas de 40 a 49 anos, 15% de pessoas de 50 a 59 anos e 20% de pessoas de 60 anos ou mais. Vide Tabela 23 do Anexo 1 no relatório completo.

Gráfico 32

Observação: Note que a distribuição do gráfico é semelhante à proporção da população brasileira, já que 48% dos brasileiros são do sexo masculino e 52% do sexo feminino. Vide Tabela 22 do Anexo 1 no relatório completo.

Método da pesquisa

A pesquisa teve como população-alvo cidadãos de 16 anos ou mais, residentes no Brasil. Os participantes foram selecionadas por meio de Amostragem Aleatória Estratificada2 por unidade da Federação (UF). Os estratos foram definidos como sendo os 26 estados e o Distrito Federal. A alocação foi uniforme por estrato. A amostra total foi composta por 21.870 entrevistas, com cerca de 810 em cada estrato (ver distribuição no Anexo 1 do relatório completo).

A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas telefônicas via CATI (Computer Assisted Telephone Interviewing). Nesse método, o entrevistador segue um roteiro que é disponibilizado em computador e composto por questionário estruturado, com questões objetivas e orientações para a condução da entrevista. Essa estrutura visa eliminar possíveis vieses, bem como maximizar a aderência dos cidadãos contatados à pesquisa. A duração média das entrevistas foi de 13 minutos.

Os números de telefone usados nas discagens foram selecionados aleatoriamente, respeitando o delineamento amostral a partir de cadastro de números habilitáveis disponibilizado pela Agência Nacional de Telecomunicações - Anatel. As quantidades de números fixos e móveis sorteados na amostra foram estabelecidas de forma a garantir que, por estrato, a probabilidade de sorteio de qualquer número fosse a mesma, independente de se tratar de telefone fixo ou móvel.

Para compor a amostra, foram realizadas ligações telefônicas para todo o país. Atendido o telefone e, após verificar se o entrevistado pertencia à população-alvo, o entrevistador solicitava autorização para realizar a pesquisa.

Foram auditadas 20,68% das entrevistas, verificando itens como cordialidade, leitura fluente, marcação correta das respostas, não direcionamento das respostas, dentre outros aspectos de qualidade e imparcialidade durante a aplicação da pesquisa.

No cômputo dos resultados, foi aplicada técnica de análises de pesquisas com amostras complexas, que leva em conta três aspectos: taxas de respostas, probabilidades de seleção dos entrevistados e características sociodemográficas da população-alvo. Estes aspectos foram considerados na ponderação por meio do cálculo de três fatores, que, juntos, resultaram em peso amostral que permite obter estimativas para a população-alvo da pesquisa.

As estimativas das taxas de respostas, calculadas por estrato e tipo de telefonia, foram obtidas de forma equivalente à Response Rate 1 (RR1) da American Association for Public Opinion Research (AAPOR, 2023, p. 85-86), a partir dos metadados das discagens telefônicas, coletados no decorrer da pesquisa.

A probabilidade de seleção dos entrevistados foi calculada com base na quantidade de pessoas que compartilhavam cada uma dessas linhas e no total de linhas habilitadas alcançadas na pesquisa em relação ao total de linhas habilitadas no Brasil por UF, segundo as estatísticas mais recentes da Anatel.

Nos resultados nacionais, os pesos foram ajustados para refletirem a proporção da população por estrato, segundo as seguintes características sociodemográficas: sexo, raça/cor, idade, situação do domicílio (rural ou urbana), porte do município, condição de ocupação e escolaridade. Para tanto, foi utilizado o método rake, considerando:

  1. para as informações de sexo, raça/cor, idade, situação do domicílio, condição de ocupação e escolaridade: a distribuição da população brasileira de pessoas com 16 anos ou mais, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do 1º semestre de 2024;
  2. porte do município: a divisão, segundo os dados do Censo Populacional 2022, em três categorias: até 50.000 habitantes, de 50.001 a 500.000 habitantes e mais de 500.000 habitantes.

Quanto às margens de erro da pesquisa, o uso do método acima permitiu calcular a margem de erro de cada uma das milhares de estimativas divulgadas no relatório. O nível de confiança utilizado nesses cálculos foi de 95%. Dessa forma, não existe uma única margem de erro para toda a pesquisa. Não obstante, considerando todas as estimativas para tabelas simples, sem cruzamentos, tem-se que, em média, a margem de erro observada foi de 1,22 pontos percentuais, com desvio padrão de 1,37 p.p..

Os percentuais foram arredondados seguindo o seguinte critério: para números com decimal menor que 0,5, foi mantida a parte inteira; e para números com decimal maior ou igual a 0,5, adicionou-se uma unidade à parte inteira do número. O uso desse método de arredondamento faz com que, em alguns casos, a soma dos percentuais de gráficos e de algumas colunas das tabelas seja diferente de 100%, para mais ou para menos, sem que isso implique em erro de cálculo.

Footnotes

  1. O relatório “Notícias falsas e Democracia” está publicado no site do DataSenado↩︎

  2. Delineamento amostral que ‘consiste na divisão de uma população em grupos (chamados estratos) segundo alguma(s) característica(s) conhecida(s) na população sob estudo, e de cada um desses estratos são selecionada amostras em proporções convenientes’ (BOLFARINE e BUSSAB, 2005, p. 93).↩︎